|O nosso milagre de Natal|
Esta é a história de um Milagre Diário, que vale por um ano de pequenos Milagres.
Esta é a história de um Milagre Diário, que vale por um ano de pequenos Milagres.
Penso muitas vezes, na benção que é ser mãe do ser mais maravilhoso que existe. Na benção que é ser mãe.
Posso ter cometido alguns erros, mas se o meu maior 'erro' foi engravidar então sou a mulher mais abençoada que existe. Algumas pessoas podem pensar que engravidar quando se está a dar passos numa carreira que parece promissora, ou principalmente quando ainda não se é independente financeiramente seja uma loucura. Eu digo, esta é a minha história e estava escrito que a minha alma inquieta fosse encontrar esta alma ponderada, sensivel de uma empatia incrivel. Costumo dizer-lhe enquanto conto a nossa história, que esta mesma história já vem de outra dimensão, de outro tempo sei lá. O meu amor pela minha filha é tanto que às vezes parece rebentar-me do peito. Não há nada nela que não me maravilhe. O seu olhar e introspecção, o seu amor pelo outro e como olha nos olhos um sem-abrigo enquanto lhe dá um sorriso e uma pequena esmola, O seu sentido de humor. O amor pelos animais, e como sofre quando o 10º peixe dourado morre, dizendo 'nunca mais vai haver um peixinho como este'. A importância de todos os momentos na vida, a familia. Eu digo-lhe que ela é como o Olaf do Frozen, pois vê tudo pelo lado positivo principalmente nas pessoas. Não, não é perfeita. Mas é minha.
Esta semana uma amiga relembrou-me o caso de um pai que não esquece um filho, que é impedido de ver pela mãe. O Miguel e o Santiago. Quantos mais serão? Penso muitas vezes no que dirão essas mães e pais aos seus filhos enquanto lhe olham nos olhos para justificar essas ausências forçadas. Que não são amados? Que os pais/mães não têm tempo para eles? Para esquecer? São capazes esses pais de viver com o sofrimento dos filhos, por não serem eles mesmo felizes? Partindo do principio que estes pais não são autênticos monstros, daqueles que inundam o lado negro das noticias e que dizemos 'isso não é um pai/mãe!'. Não, não são. Partindo do principio que a luta, é dos pais, e só dos pais, tal como a sua mesquinhez...que dizem estes pais?
Posso falar um pouco sobre isso. Quando engravidei, não foi planeado. Mas eu queria ser mãe. O pai foi convidado a participar, mas na sua cobardia e incertezas e dilemas de um 'miúdo' de 28 anos que só queria surf e uma guitarra, não foi capaz. Assustado, pediu-me em casamento, um pedido tão oco como a sua vontade de na altura assumir qualquer responsabilidade. Regressou ao seu país pouco depois.
Eu, não estava triste ou infeliz talvez ajudasse o facto de não o amar. Pensava que não era uma drama, e assumi tudo como se de uma produção independente se tratasse, com muito amor. Como se eu fosse de facto Islandesa, e não Portuguesa. Tive e tenho a sorte de ter tido uns pais que sempre me apoiaram, não só emocionalmente mas também financeiramente (mais do que queira admitir) e umas irmãs que têm sido mais que tias, umas mães para Ela. Mas Ela tinha e tem um pai.
Aos 3 anos, falei-lhe do pai pela primeira vez, Mostrei-lhe fotos nossas, e não fez muitas perguntas nem antes nem depois desta conversa. Dormiu com as fotos e mostrou-as a toda a gente. Era, tal como agora uma criança equilibrada e resolvida. Livre de qualquer drama sempre encarou a sua história como mais uma hitória e um tipo de familia. Na escola haviam outros pais e mães, uns avós e outros tios. Há muitos tipos de familia, a nossa, é só mais uma. O dia do pai não era especial, nem pela negativa, nem pela positiva. Era o dia em que trazia qualquer coisa da escola para o avô ou para a mãe. Simples.
Com o pai, eu ia tentando fazer a ponte, nunca fechei a porta (embora às vezes dissesse a mim mesma que não iria tentar mais). Mas não era a minha história, é a d'Ela. Nunca lhe disse que o pai não a amava, que não queria saber d'Ela, nem podia porque eu sabia que apesar de tudo essa não era a verdade. Embora aos olhos dos outros, essa fosse talvez fosse a verdade.
Quando eu falava com o pai, este dizia que a amava, mas não fazia nada para o demonstrar. A vida continuava feliz. Numa boa fase apresentei-a ao pai pelo Skype. Falaram timidos, sorriram e riram. Mas não foi consistente. Apesar de tudo, as duas íamos falando, queria que me dissesse o que sentia e falavamos abertamente q.b. sobre o pai e eu dizia-lhe 'sabes que ele ama-te mas é muito maluco' e riamos de seguida quando eu imitava o seu suposto sotaque Brasileiro. Queria que soubesse, que poderia dizer-me tudo. Queria saber se sofria. Não sofria, porque eu assegurei-me de que não se tratava de um drama sem deixar de estar atenta às suas necessidades.
Nunca lhe falei mal do pai, como podia eu? Nem eu, nem a minha familia. Ele, deu-me a maior prenda que alguém me poderia ter dado, a seguir ao meus pais terem me dado as minhas irmãs (com 11 anos de atraso diga-se!). A minha filha. Não há nada que ultrapasse isso, nada. Existe benção maior?
Em Abril passado, uma nova tentativa (como podia deixar de continuar a tentar? fechar a porta? não me cabia a mim tal decisão). O pai que entretanto passara por uma experiência de vida e morte, começou a mudar. Sem interferir na nossa dinâmica, começou a falar semanalmente com Ela. Ela reagiu normalmente. Tudo isto é a sua realidade, a sua normalidade. Embora para os outros possa parecer estranho. Não importa, cada um a sua história.
Falavam por skype, whatsapp e riam, trocavam fotos e piadas. Ás vezes não lhe apetece falar, não por o rejeitar, simplesmente porque está a dar a Violetta e nesse momento, essa é a prioridade. Entretanto, noto que o pai quer fazer parte da sua vida embora vivam em continentes diferentes. Não faz mal,a mãe já viaja muito e isto também é normal. é como se o pai fosse emigrante. Como tantos outros.
Mas a verdade é que este Natal o nosso milagre aconteceu: O pai comprou-nos viagens. Quer ver a filha ao vivo e a cores. No dia 1 de Janeiro o nosso milagre de Natal vai acontecer. Pai e filha vão abraçar-se pela primeira vez. Isto é o Natal de verdade. Não importa que é com 9 anos de atraso, o que importa é o agora. O que importa, é o amor.
Feliz Natal! Amem e perdoem. A vida é curta.