The important trip: the encounter



|A viagem mais importante: o encontro|

Enquanto fazíamos as malas, nos dias que antecederam à viagem,a excitação era enorme e a alegria estava espelhada na sua carinha, afinal íamos fugir do frio a caminho do sol no Brasil onde vive o seu pai. Que criança não ficaria assim com esta possibilidade? Parece uma futilidade dizer isto assim, quando se está a falar da viagem mais importante até à data na vida de uma criança de nove anos. Sim é verdade, mas também é verdade que estamos a falar de uma criança super equilibrada, bem resolvida e de bem com a vida. 




Passo a explicar o que não é nem soberba minha, nossa, nem leviandade pelos seus sentimentos. 

Muitas vezes ao longo destes nove anos, fui questionada inúmeras vezes, se ela não sentiria falta do pai, se perguntaria muitas vezes por ele. As pessoas que me questionaram isto apesar de bem formadas e bem intencionadas, estavam confusas e talvez perplexas pela forma como estava a criar a minha filha e como, apesar de muitas vezes ter dado jeito ter alguém extra para ajudar, éramos e somos felizes. Como é que alguém que é solteira e é mãe, pode ser assim tão segura? Ou criar uma menina, segura, equilibrada e feliz? Como é que eu não me estava a escavacar, apesar das dificuldades e golpes irreversiveis na minha carreira, por uma pensão qualquer? Como? Como é que eu tinha e tenho, o desplante de sorrir enquanto digo sou mãe solteira, sem pudor ou orgulho ferido? Como é que não ando curvada, e como me atrevo a ser tão independente de um homem qualquer? Do seu pai, ou de um outro qualquer que entretanto pudesse ter aparecido para eu em agarrar como se não houvesse amanhã? Porque, eu enquanto mulher sozinha tão desesperadamente precisaria com certeza. Com certeza, porque sozinha é difícil e a criança é coitada, Como? Como? 




Eu respondo, como é que alguém sente falta de uma realidade que não é a sua? De algo que não conhece? Quem é que sente falta de algo que nunca lhe tenha sido apontado como uma lacuna? Se sempre fomos ambas, o suficiente e mais além? O suficiente, repito. Acrescento, lamento mas estou a criar uma futura mulher segura de si, que se ama, que é mais que o suficiente, independente mas amada e com o coração no lugar certo. 




Antes de partirmos disse-lhe várias vezes 'Kika, já viste, vais conhecer o teu pai! Ao vivo!' depois perguntava-lhe 'O que achas de isto tudo? Pensas muito nisso?', ela sorria-me enquanto respondia 'não muito, mas acho que vai ser giro! Mas vou ter um bocadinho de vergonha.'. Uns dias antes, ouvira-a comentar com as amigas 'vou até ao Brasil conhecer o meu pai', fiquei surpreendida confesso com as reacções das amiguinhas 'que giro!' ou 'que sorte!' ou ' a sério?! Aproveita!'. Tão natural, como a nossa sede, mesmo. Afinal, somos nós os adultos que lhes vamos incutindo preconceitos, ou não.





No avião, estava eléctrica brincava com o Play-Doh depois com os livros, depois via os inúmeros filmes a escolher para ver durante o voo. Eu observava-a, tentava entrar na sua pele, imaginar o que sentia. De vez em quando apanhava-me a observa-la, sorria-me de volta e fazia-me uma festinha nas mãos, talvez pressentisse o meu coração de mãe que agora que se aproximava a hora H, estava mais apertado. Mas ela, ela estava tranquila e feliz. Como sempre. Tenho dúvidas, muitas vezes. Questiono-me, a toda a hora. Mas depois ela surpreende-me com o seu carácter e força e um amor infinito pelo outro.






Quando aterramos no Rio, ambas estávamos vestidas de inverno quando nos vimos rodeadas de gente feliz e bronzeada que tinha há apenas umas horas recebido o ano novo na cidade maravilhosa. A esperança encheu-nos o coração, ano novo! Suadas fomos trocar de roupa, e agora que estava a chegar o momento, o seu semblante mudara ligeiramente. Sorria, mas estava a ficar ansiosa. Não sei o que estava a pensar, a sentir. Posso imaginar. Reverti para o humor, como sempre nas horas mais difíceis, entre piadas que íamos fazendo e rindo. O ambiente ficou mais calmo, mas o seu riso tornou-se mais nervoso, mais tímido. Quando chegamos ao destino, ao destino, depois de recolhermos as bagagens disse 'Mãe! É agora.' eu respondi 'sim filha, coragem, eu estou aqui.'e ela disse-me 'Sim, Como sempre.'. Saímos ao encontro do momento mais importante da sua vida. 

Não houve lágrimas, houve risos nervosos e um abraço apertado e longo. Ambos estavam nervosos, boca seca, estavam curiosos e observavam-se. Agora pai e filha ganharam cheiro, cor e a vida não vai voltar a ser a mesma. Nada é perfeito, mas a vida é boa. A minha filha lembra-me muitas vezes disto mesmo, quando caio na realidade de adulta por vezes descrente (Graças a Deus, poucas! eheh) que há sempre o lado positivo em tudo. Esta pequena pessoa que saiu de dentro de mim, este pequeno maravilhoso milagre, esta-me sempre a surpreender, sempre a ensinar. E eu sempre a aprender.








amniotico

Sónia is the founder and writer of Amniotico- Parenting, Travel and Tales. She began this blog in 2005 with two posts about parenting, the year she had daughter Francisca. Then life happened. Now since 2014 with a whole new focus on Parenting and Travel. Sonia is also an international Human Rights and Elections expert and as such has worked with the United Nations and European Union in many parts of the globe, including conflict and war torn countries while being a single mom!